Na semana passada, recebi com grande entusiasmo a notícia da inauguração da nova Ecovia do Mondego.
Com ligação à já famosa Ecovia do Dão, que percorre os 50 km entre Santa Comba Dão e Viseu, e à Ecovia do Vouga, que liga Viseu a Aveiro em 90 km, a Ecovia do Mondego é um acréscimo notável para os amantes do eco e ciclo turismo.
A partir de agora é possivel explorar cerca de 200 km em total segurança, passando pelas históricas e encantadoras cidades de Coimbra, Viseu e Aveiro.
Tendo já pedalado várias vezes pela Ecovia do Dão e do Vouga, ambas de uma beleza singular, a minha curiosidade para explorar esse novo percurso, entre Santa Comba Dão e Coimbra, era imensa.
Apesar da minha agenda apertada nesta época do ano, não quis perder a oportunidade. Assim, aproveitei um dia livre e, na companhia habitual da Francisca, parti para esta nova aventura.
O dia começou cedo, pois precisávamos dirigir até Santa Comba Dão, o ponto de partida.
Porém, uma avaria no carro atrasou nossos planos, e só conseguimos começar a pedalar por volta das 14h, em vez das 9/tinha 10h como previsto.
A Estação de Comboio de Santa Comba Dão, que liga a Ecovia do Dão à nova Ecovia do Mondego, tem fácil acesso, e há espaço suficiente para estacionar e preparar as bicicletas, o que é sempre importante em aventuras como esta.
No entanto, a sinalização das Ecovias e suas direções deixa a desejar, especialmente com obras ainda em andamento, o que torna a orientação inicial um pouco confusa.
Felizmente, com um pouco de intuição, conseguimos encontrar o nosso caminho.
A nossa primeira paragem foi na aldeia do Vimieiro, onde Salazar, chefe de governo de Portugal entre 1927 e 1969, nasceu e passava férias. Fizemos uma breve pausa para ver o exterior da casa antes de seguir viagem.
O trecho seguinte, cerca de 7 km, é feito por uma estrada asfaltada, compartilhada com carros, sem grandes atrativos. A monotonia foi interrompida apenas pela aparição de dois pequenos javalis, até chegarmos à foz do Dão, onde suas águas encontram as do Mondego.
A partir deste ponto, a paisagem muda drasticamente. Uma vasta mancha de água criada pela Barragem da Aguieira, rodeada por milhares de árvores e com trilhos de terra batida - o cenário torna-se muito mais agradável e acolhedor.
Ao avistarmos o Hotel Montebelo Aguieira junto à barragem, não resistimos a fazer mais uma pequena pausa.
Desidratados e com fome, aproveitamos para recarregar as energias. Com uma vista espetacular para a barragem, um extenso relvado e uma piscina incrível, não pudemos deixar de sonhar com a ideia de passar ali uns dois ou três dias.
Infelizmente, devido ao atraso causado pela avaria no carro, não tínhamos muito tempo a perder, quanto mais passar 2 ou 3 dias. Por essa razão após uma refeição leve, seguimos o nosso caminho.
A partir daqui o cenário tornou-se ainda mais deslumbrante, pedalávamos cercados por árvores magníficas, com as águas do Mondego emoldurando a paisagem.
Diferente das outras ecovias, onde predominam ciclovias pavimentadas, a Ecovia do Mondego aproveita estradas florestais e trilhos de terra batida, conferindo um toque muito natural e alguma adrenalina (não muita) a esta jornada.
Os cerca de 25 km entre a Barragem da Aguieira e Penacova é absolutamente encantador, com alguns pontos que exigem mais perícia e com a existências de pequenas enseadas, perfeitas para um mergulho ou piquenique.
A Livraria do Mondego, antes da chegada à praia de Penacova, é um dos destaques do percurso.
Este impressionante rochedo, formado há 400 milhões de anos, parece ter sido esculpido pela natureza em forma de livros arrumados verticalmente numa estante, o que levou a National Geographic a chamá-lo de "a Livraria Mais Antiga do Mundo".
Chegámos a Penacova pela praia fluvial, um ótimo lugar para mais um mergulho e uma bebida refrescante.
Porém, o tempo estava contra nós, já era tarde, e decidimos subir até o topo da serra, na cidade de Penacova, para assistir ao pôr do sol no Mirante do Emygdio.
Em resumo, embora a Ecovia do Mondego exija um pouco mais de habilidade em algumas partes do percurso em comparação com as ecovias do Vouga e do Dão, especialmente na parte entre a Barragem da Aguieira e Penacova, a beleza do percurso compensa qualquer esforço extra.
Recomendo vivamente essa experiência e pretendo voltar após o verão para completar o trajeto entre Penacova e Coimbra.